Reflexões de Bento XVI antes da oração do Angelus
Queridos irmãos e irmãs!
O Evangelho deste domingo (Mc 12, 28-34) nos propõe o ensinamento de
Jesus sobre o maior mandamento: o mandamento do amor, que é duplo: amar a
Deus e amar ao próximo. Os Santos, que recentemente celebramos todos
juntos em uma única festa solene, são aqueles que, confiando na graça
de Deus, buscam viver segundo esta lei fundamental. De fato, o
mandamento do amor pode colocá-lo em prática plenamente somente quem
vive uma relação profunda com Deus, assim como a criança se torna capaz
de amar a partir de um bom relacionamento com sua mãe e seu pai.
São João de Ávila, que recentemente proclamei Doutor da Igreja, assim escreve ao inicio do seu Tratado de Amor a Deus: “A
causa – diz – que mais impulsiona o nosso coração ao amor de Deus é
considerar profundamente o amor que Ele teve por nós... Isto, mais do
que os benefícios, leva o coração a amar; porque aquele que faz ao outro
um beneficio, lhe dá alguma coisa que possui; mas aquele que ama, se
doa com tudo o que tem, sem que lhe sobre algo a dar” (n.1).
Antes de ser uma ordem – o amor não é uma ordem – é um dom, uma
realidade que Deus nos faz conhecer e experimentar, para que, como uma
semente possa germinar também dentro de nós e se desenvolver em nossa
vida.
Se o amor de Deus deixou raízes profundas em uma
pessoa, esta é capaz de amar até mesmo quem não merece, assim como Deus
faz conosco. O pai e a mãe não amam os filhos somente quando eles
merecem: os ama sempre, mesmo quando naturalmente faz com que eles
entendam que estão errados. De Deus aprendemos a querer sempre e somente
bem e nunca o mal. Aprendemos a olhar o outro não somente com os nossos
olhos, mas com os olhos de Deus, que é o olhar de Jesus Cristo. Um
olhar que vem do coração e não permanece na superfície, vai além das
aparências e consegue captar os anseios profundos do outro: de ser
escutado, de uma atenção gratuita; em uma palavra: de amor. Mas se
verifica também o percurso inverso: que abrindo-me ao outro assim como
ele é, indo ao seu encontro, tornando-me disponível, eu me abro também
para conhecer a Deus, para sentir que Ele existe e é bom.
Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis e estão em relação
recíproca. Jesus não inventou nem um nem outro, mas revelou que estes
são, no fundo, um único mandamento, e o fez não apenas com palavras,
mas, sobretudo, com o seu testemunho: a própria Pessoa de Jesus e todo o
seu mistério encarnam a unidade do amor a Deus e ao próximo, como os
dois braços da Cruz, vertical e horizontal. Na Eucaristia Ele nos doa
esse duplo amor, doando-Se a Si mesmo para nós, para que, nutridos deste
Pão, nos amemos uns aos outros como Ele nos amou.
Queridos amigos por intercessão da Virgem Maria rezemos para que todo
cristão saiba mostrar a sua fé no único verdadeiro Deus com um
testemunho claro de amor ao próximo
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